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Quebrando barreiras e paradigmas: as brigadistas da Brigada Aliança

No mês em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres Rurais, trazemos o relato das quatro integrantes que mostram a força da presença feminina na Brigada Aliança



No dia 15 de outubro, consagrado pela Organização das Nações Unidas como o Dia Internacional das Mulheres Rurais, elas estavam longe de casa, correndo riscos. Por uma causa nobre e por opção própria, é verdade. Entre os 66 integrantes das 12 equipes da Brigada Aliança que estão em ação nesta temporada de incêndios florestais, quatro mulheres destemidas embrenharam-se nas matas, envolveram-se em combates e tiveram papel destacado na contenção de chamas em fazendas e unidades de conservação.

“A presença das mulheres contribui muito para as equipes”, afirma Edmar Abreu, comandante e diretor geral da Brigada Aliança. “Entre outras qualidades, elas têm um olhar mais apurado para os detalhes e isso é muito importante quando se está em ação”. Elas enfrentam o fogo assim como seus companheiros e sentem muito orgulho de fazer parte de uma equipe acolhedora. Acompanhe as histórias de Poliana, Lisandra, Luzia e Camila.




Lisandra da Costa Rodrigues, 23 anos, Parque Estadual dos Pireneus (GO)


Há cinco meses, quando ficou sabendo do curso de brigadistas da Brigada Aliança, Lisandra estava em busca de adrenalina. Ela trabalhava como atendente de caixa e resolveu participar do curso. Foi uma mudança mais que drástica. “Não aguentava ficar sentada o dia inteiro mais”, conta. “A adrenalina me fez entrar na profissão. E o que vi é que essa profissão é pura adrenalina e aventura. Às vezes da medo, porque também é muito arriscado.”

O sentimento é compreensível. Ela e seus companheiros trabalham em combate direto com o fogo, que é instável e tende a mudar de direção a cada instante, de acordo com o vento. “É muito arriscado estar de frente com o fogo, o calor, a fumaça. Ali estamos vulneráveis demais e, a qualquer momento, o vento vira e o fogo pode vir em nossa direção. Se não sairmos da frente o pior pode acontecer.”

Mas não é apenas a adrenalina que a move. Lisandra tem outra missão: provar que o lugar da mulher é onde ela quiser. “Aqui na minha brigada eles estão sempre me apoiando, me ajudando - eles me respeitam. Mas ainda sim, tem aquela coisa no ar de ‘é mulher e não vai conseguir’. Mas eu estou provando o contrário, de que mulher pode e consegue sim ser uma brigadista de alto nível. Quero ser melhor que muitos homens em combate, com muita força, resistência e coragem”.

A família de Lisandra abraça a causa dela, mas não deixam de se preocupar quando ela está em combate. “Eles têm muito orgulho de mim. Mesmo achando arriscado, minha família me apoia no que eu precisar.”



Poliana Duarte, 26 anos, Parque Estadual Serra das Caldas (GO)


“Sempre me interessei muito pela área da saúde e dos bombeiros”, afirma Poliana, que trabalhava como socorrista da ambulância da prefeitura de Cocalzinho de Goiás, sua cidade natal. “Foi um amigo do Corpo de Bombeiros quem me falou sobre o curso da Brigada. Eu me inscrevi e fui muito bem na prova. Logo depois, fui chamada pelo comando para fazer parte da Brigada Aliança e estou gostando muito. É uma experiência incrível.”

Formada em Enfermagem, Poliana sempre gostou de adrenalina. A infância na proximidade ao Parque Estadual dos Pireneus ajudou a formar a brigadista, conta Poliana. “Eu gosto de estar na natureza. É uma das partes boas de trabalhar com a Brigada.” É também o mais difícil, segundo ela, ao deparar com as consequências do fogo. “Ver animais queimados, pra mim, é a pior parte”.

Há quase quatro meses na Brigada Aliança, Poliana encarou um dos maiores incêndios deste ano: o que consumiu parte do parque Estadual de Terra Ronca. Foram dez dias para ele ser eliminado, com a participação de mais de 30 pessoas lideradas pela Brigada Aliança, entre brigadistas, bombeiros, voluntários e funcionários da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento do Estado de Goiás. “Fiquei mais de oito dias em combate. Andamos muitos quilômetros com equipamentos nas costas, em um terreno muito difícil. Eu tenho muita resistência e isso ajudou muito. No final, quando vimos o incêndio eliminado, foi gratificante.”

Além da resistência física para o combate, Poliana conta também com o apoio dos companheiros da Brigada. “Eu acho que eles tentam me poupar por ser mulher. Eles não me deixam carregar coisas pesadas, por gentileza. Mas eu falo que sou brigadista como eles, que tenho que fazer o trabalho como eles.”




Luzia Tavares Monteiro, 37 anos, Base de Pedra Preta (MT)


Luzia era dona de casa, com quatro filhos para cuidar, quando, ao visitar o Parque do Xingu com a equipe da Brigada Aliança, pode conhecer mais de perto o trabalho que é realizado. Ao ver os combatentes se preparando para o combate, o interesse aumentou.

“A vontade cresceu muito de fazer parte dessa equipe e tive a oportunidade de fazer o curso. Hoje estou aqui, realizada por ser uma brigadista, junto com essa família que é a Brigada Aliança”.

Desde junho passado, Luzia trabalha na equipe de Pedra Preta (MT). “Quando a gente chega pro combate, o pessoal da fazenda acha que não vou dar conta do trabalho”, ela conta. “Mas já ouvi também muitos elogios do tipo: ‘Olha, essa mulher é forte!’”.

O embate com o fogo traz surpresas sempre. Para Luzia, os desafios são muitos, mas nada que a faria desistir. "Em qualquer serviço a gente passa por sufoco, mas nada impossível e nada que a gente não possa finalizar. Quando você vê o combate terminado, você fala, ‘eu fiz parte disso aí’”.



Camila Juliana da Silva Dias, 28 anos, Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco (GO)


Formada em Construção Civil e prestes a obter a formação em Ciências Biológicas, a brigadista Camila já acompanhava o trabalho da Brigada Aliança há algum tempo antes de iniciar o treinamento. Ela trabalhava como assistente operacional no Parque Estadual da Serra Azul, em Goiás, quando, no início de 2021, surgiu a oportunidade de participar do treinamento da Brigada Aliança, com chance de contratação. “Como eu já conhecia o trabalho, já sabia como funcionava a dinâmica, eu achei que eu me encaixaria”, ela conta. “É uma profissão muito bonita e um pouco invisível para a população. O trabalho de monitoramento e fiscalização faz parte do dia a dia das equipes, não apenas o combate ao fogo. É um trabalho de conscientização que temos que fazer, que leva ao nosso sucesso.”

Em agosto de 2021, Camila juntou-se aos brigadistas do Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco, em Goianápolis (GO), e do Parque Estadual Telma Ortegal, em Abadia de Goiás (GO). “As pessoas geralmente falam que sou maluca, porque é uma profissão que acaba sendo bastante perigosa, não apenas durante o combate, mas na fiscalização e monitoramento também. Nós nunca sabemos com quem estamos lidando.”

Para Camila, o conhecimento da formação em Ciências Biológicas têm auxiliado bastante o seu desempenho como brigadista. “Eu entendo que na natureza, de uma forma geral, a gente não tem como controlar, apenas como prever algumas coisas. Com o fogo não é diferente, porque é um conjunto de fatores que resultam no comportamento das chamas.”

Outra ferramenta que ela aprendeu a levar consigo em combates é a tranquilidade. “No meu primeiro grande incêndio tudo mudou de uma hora pra outra. O fogo virou, as chamas que estavam baixas, ficaram altas e o fogo começou a vir em nossa direção e na direção da camionete da equipe.”

Camila conta que o nervosismo e apreensão não a deixaram ligar o veículo. Coube, naquele momento, ao líder da brigada ligar a camionete e retirá-lo do percurso das chamas. “A lição daquele momento é que se você está em uma situação em que o risco é iminente, é importante manter o controle. Eu entendo agora que tudo tem que ser feito com tranquilidade”.

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