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  • luizfsa7

O que aprendemos com o El Niño

A cada ano que esse fenômeno climático reaparece, os riscos de queimadas voltam às manchetes e a preocupação com perdas agrícolas se repete. Esse entendimento pode ir além para gerar providências diferentes



O El Niño está de volta. A confirmação vem do Centro de Previsão Climática da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), como noticiado pelo Portal Uol. A reportagem ainda informa que, agora, o fenômeno climático pode ser o mais intenso dos últimos 70 anos. Comunicação semelhante foi publicada pelo Olhar Digital, com informações do Bureau de Meteorologia da Austrália, alertando que poderá ser o pior de todos os tempos.


As notícias lembram as manchetes de 2016, como a do Portal G1, anunciando os grandes impactos do El Niño naquele período. Tem sido assim sempre que esse fenômeno ressurge, intercalado com a La Niña: uma avalanche de manchetes sobre os efeitos das consequentes mudanças climáticas.


Isso não acontece por acaso. De fato, as alterações nas condições do clima causadas pelo El Niño são motivo de preocupação. Sobretudo em relação às florestas e à produção agropecuária, pelos riscos de aumento de queimadas. O fenômeno tende a tornar mais crítico o já complicado período seco na Amazônia, que vai do início do inverno até setembro, de acordo com o geógrafo, professor e pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Giuliano Novais. O especialista, inclusive, deu um depoimento para a Aliança da Terra sobre esse cenário.


Segundo Novais, embora não existam muitos estudos sobre os efeitos do El Niño no Cerrado, o estado de alerta permanece. “Se a Amazônia vai estar mais quente e seca, e nosso Cerrado já é seco, a junção desses dois fenômenos intensifica a formação de queimadas”, disse.


“Devemos ter muito cuidado com as queimadas no meio do ano, durante esse período de El Niño, podendo se estender até o final do ano.” A opinião do professor da UEG só reforça o que as equipes da Aliança da Terra já têm constatado pelas ações de combate, prevenção e monitoramento do fogo.


Impacto econômico


A importância da atenção com as queimadas em períodos de El Niño é proporcional aos prejuízos que o fogo pode causar. Não são poucos os relatos de produtores rurais que perderam lavouras, áreas de pastagem, animais e boa parte de sua infraestrutura.


Caroline Nóbrega, diretora-geral da Aliança da Terra, chama a atenção para o efeito cascata desse perigo. “Os incêndios podem causar, inclusive, perda de fertilidade do solo, o que prejudica a safra futura”, explica. “E não apenas por causa da perda de nutrientes, mas também da riqueza biológica da terra.”


Segundo dados da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), quando uma fazenda é atingida por um incêndio, no ano seguinte as perdas de produtividade chegam a dez sacas por hectare na soja e até cinco sacas por hectare no milho. E a recuperação da fertilidade do solo pode levar de 3 a 5 anos.


Em relação às perdas com benfeitorias, o valor passa de R$ 4,2 mil por hectare. No caso de maquinário destruído pelo fogo, o custo para reposição varia entre R$ 500 mil e R$ 1,5 milhão.


A situação não é diferente para as pastagens, pois cada hectare destruído por um incêndio vai demandar entre R$ 4 mil e 5 mil em investimento para a restauração, de acordo com a Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat).


Em infraestrutura, a reconstrução de cercas, por exemplo, terá um custo de R$ 10 mil por quilômetro de extensão. Já um curral atingido pelo fogo precisará de investimento mínimo de R$ 300 mil para votar a funcionar, enquanto a reposição de maquinário custará entre R$ 300 mil e R$ 400 mil.


O prejuízo financeiro não é exclusividade do agronegócio. E os danos podem se estender por anos, em uma análise mais abrangente. Ao menos é o que diz artigo publicado na revista Science, que considera a possibilidade de o El Niño atual causar prejuízos de US$ 3 trilhões na economia global até 2029, como divulgado pelo Olhar Digital.


Esse valor vem da comparação com um cenário sem a ocorrência do fenômeno meteorológico. E a projeção é baseada no balanço de impactos econômicos anteriores. Em 1982-83, por exemplo, a perda de renda mundial somou US$ 4,1 trilhões em um prazo de cinco anos. Nesse mesmo período de tempo, o El Niño de 1997-98 tirou US$ 5,7 trilhões da economia global.

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