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O legado do projeto Quelônios do Rio das Mortes

Atualizado: 30 de nov. de 2023

Entre 2006 e 2022, a Aliança da Terra protegeu mais de 86,5 mil filhotes de tracajás e tartarugas-da-Amazônia e promoveu diversas ações de educação ambiental na região. A iniciativa chega ao fim com a ONG, mas seguirá viva em outros caminhos




Um dos pontos cruciais da atuação da Aliança da Terra é a gestão de ciclos. E essa habilidade tem sido determinante para proteger e salvar vidas, uma conquista que ultrapassa os limites da prevenção e do combate ao fogo. Desde 2006, a ONG vem preservando a vida de tracajás e tartarugas-da-Amazônia, por meio do Projeto Quelônios do Rio das Mortes.


A iniciativa desenvolvida no município de Novo Santo Antônio, região do Vale do Araguaia, em Mato Grosso, protegeu a vida de mais de 86,5 mil filhotes desses animais até o ano passado.


Uma equipe totalmente dedicada e comprometida com esse propósito identificava, marcava e monitorava os locais de postura dos quelônios, até o momento da eclosão dos ovos, assegurando aos filhotes recém-nascidos, nos primeiros momentos de vida, que alcançassem a água. A taxa de sobrevivência dos tracajás chegou a 92%, enquanto a das tartarugas-da-Amazônia, a 82%.


Além de atingir tais índices, durante esses 17 anos o projeto atraiu as comunidades ao redor, que contribuíram para a preservação. Para se ter ideia desse envolvimento, algumas das etapas do trabalho, como a identificação de ninhos e a eclosão dos ovos, até ganharam espaço entre as atividades extracurriculares das escolas da rede municipal local.


A iniciativa contou com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA-MT), da Prefeitura Municipal de Novo Santo Antônio e da própria Brigada Aliança. Ainda teve parcerias com Universidades Federais, o que resultou em uma dissertação de Mestrado finalizada recentemente. Além disso, a ONG participou do Grupo de Assessoramento Técnico do Plano de Ação Nacional (PAN) Quelônios Amazônicos vigente entre os anos de 2016 e 2020.


Infelizmente, este valioso ciclo chegou ao fim. Ao menos da forma como vinha sendo realizado. O Projeto Quelônios do Rio das Mortes deixou de fazer parte das atividades da Aliança da Terra.


“Foram 17 anos de muita dedicação e amor. Após várias tentativas infrutíferas de manter o projeto ativo, é hora de fechar esse ciclo”, disse Caroline Nóbrega, diretora-geral da Aliança da Terra. “Fica o legado do que construímos e conquistamos.”


Um alento para essa triste notícia é que o zelo pela vida dos quelônios na região ainda seguirá vivo no Refúgio da Vida Silvestre Quelônios do Araguaia e Corixão da Mata Azul, sob responsabilidade direta do IBAMA e da SEMA/MT, respectivamente.


Preservação coletiva e necessária


O encerramento desse projeto deixa duas mensagens muito importantes. A primeira delas é seu próprio valor, pela preservação da vida dessas espécies. E não se trata apenas dos animais, pois a manutenção dos quelônios reflete também uma preocupação maior pela conservação dos ecossistemas de áreas úmidas, como brejos e planícies de inundação, áreas ecologicamente importantes.


Se a região continua a servir de maternidade para os tracajás e para as tartarugas-da-Amazônia, é porque ainda existem as condições necessárias para que isso aconteça. Sem essa atividade desenvolvida pela Aliança da Terra, a situação poderia ser outra. Perde-se a proteção dos animais, perde-se parte da natureza, perdem-se vidas.


A segunda mensagem está exatamente na urgência que se tem de parcerias técnicas e, sobretudo, financeiras que ajudem a desenvolver ações de preservação ambiental como essa. É preciso manter gente dedicada, equipamentos, infraestrutura, e tudo isso de forma contínua, durante o ano todo. Nem por isso significa custos inatingíveis, muito pelo contrário.


Embora a iniciativa deixe de existir, a Aliança da Terra continua à disposição de quem tenha interesse em contribuir financeiramente com essa causa, fazendo a conexão com o IBAMA e a nova ação no Refúgio da Vida Silvestre. “Ainda haverá muitos desafios e restrições financeiras. Por isso a ajuda é tão importante”, afirmou Caroline.

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