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O cientista que apaga fogo com dados


Como Ricardo Faria utiliza a tecnologia para entender o comportamento do fogo e gerar alertas para as equipes da Brigada Aliança



Os incêndios florestais são uma real ameaça à manutenção da biodiversidade dos ambientes naturais e antrópicos, impondo severos prejuízos financeiros, sociais e mesmo humanos às áreas atingidas. Felizmente, existem pessoas preocupadas e agindo em prol da preservação desses espaços.

Integrante da equipe da Aliança da Terra, o cientista ambiental Ricardo de Faria é um desses profissionais que se engajam diariamente para minimizar os efeitos sentidos nas florestas. “Desde muito jovem, ainda no ensino médio, eu via parques queimando e aquilo me deixava transtornado. Queria uma oportunidade de contribuir através de pesquisas para amenizar a situação”, diz.

Ricardo foi buscar essa oportunidade. Graduou-se em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e continuou seus estudos com um mestrado em Monitoramento de Recursos Naturais na mesma instituição. Por meio do trabalho desenvolvido em sua pesquisa de mestrado no Jardim Botânico, em Goiânia, e posteriormente na Aliança da Terra, o cientista aprofundou seus conhecimentos com auxílio do geoprocessamento para combater e compreender os incêndios florestais.

“No trabalho de mestrado, conseguimos datar perdas do solo através do lenho (parte de madeira das árvores) de indivíduos arbóreos. Ao observar a largura dos anéis de crescimento desses troncos podemos ver quando houve incêndios e identificar o quanto de solo foi perdido a cada ano”, explica. O trabalho realizado hoje na Aliança da Terra o permite mapear cicatrizes e queimadas através da complexa análise de imagens de satélite e sensoriamento remoto. A tecnologia, dessa forma, tem sido uma importante aliada na prevenção e no combate de incêndios florestais. Ricardo utiliza as imagens de satélite para monitorar, em tempo real, os focos de calor durante a estação seca, identificando as frentes de fogo e repassando informações estratégicas aos combatentes da Brigada Aliança.



Informação para ação

Os dados coletados por Ricardo por meio de imagens de satélite mostram que as frentes de fogo são muito intensas, podendo atingir temperaturas entre 400 e 500 graus Celsius. “Para a biodiversidade isso é péssimo. Nas imagens, distinguimos a vegetação sadia daquela que foi queimada. Pelo seu índice de verdor é possível ver uma variação da coloração até mesmo daquelas que foram parcialmente queimadas, pois elas apresentam coloração menos verde”,

O satélite permite registrar até mesmo o momento em que o fogo teve início. “Geralmente essas informações nos mostram quando e onde começou o incêndio, e ao cruzarmos esses dados notamos que a locação bate com as áreas das fazendas. Vemos, por exemplo se o fogo começou nas propriedades rurais e posteriormente se alastrou para os parques. São deixados verdadeiros rastros”.

Ao constatar que está havendo fogo em uma determinada região, Ricardo entra em contato com as equipes da Brigada Aliança, que se mobilizam para apagar os incêndios. "Pego as coordenadas do local que está queimando no parque, coloco no mapa, insiro os limites da área monitorada, as imagens de satélite por trás desses limites, onde há focos de calor, o dia que está ocorrendo e encaminho todas essas informações para o time da Brigada se localizar melhor. Falo também o horário que iniciou para terem melhor noção quanto ao deslocamento”, finaliza.

Outro aspecto relevante do trabalho de Ricardo consiste na análise de incêndios em todos os parques em que a Aliança atua. “Primeiro eu identifiquei as queimadas nos parques de Goiás e fiz a análise com geoprocessamento para mapear todas as cicatrizes entre os anos 2006 e 2021.” Após finalizar o Estado de Goiás, os estudos de Ricardo se concentram na região do Pantanal. “Estou analisando cicatrizes da área queimada em porcentagem de hectares entre 2020 e 2021 para todos os municípios em que a Brigada atua. Alguns deles exigem um recorte maior, pois são analisadas regiões do entorno também, como acontece em Anastácio (MS) e Pedra Preta (MT)”.


O que mostram os números?

As análises permitem entender a probabilidade do surgimento de focos em determinadas regiões, a partir da observação da periodicidade dos anos mais críticos em ocorrências. O cientista observa que os números referentes às queimadas flutuam muito, ao contrário do que diz o senso comum de que só aumentam. “Por exemplo, em Goiás, é possível observar que o Parque Estadual de Terra Ronca tem queimadas muito recorrentes. Em 2021 foi bastante intenso e queimou diversas áreas. Mas teve um ano específico que queimou um pouco a mais do que agora. Este não foi o máximo visto até hoje”.

Já no Pantanal, relata, observou-se que no município de Anastácio houve significativa diminuição de focos de incêndio, enquanto as regiões em seu entorno registraram aumento. “Isso mostra que a Brigada Aliança está sendo capaz de conter o fogo nas áreas em que atua, o que é bastante positivo”.

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