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  • Foto do escritorDaiany Andrade

“Não se faz manejo de fogo sem envolver as pessoas”

Caroline Nóbrega, diretora geral da ONG Aliança da Terra, destaca um dos principais pilares da atuação da Brigada: a tecnologia social



A Brigada Aliança é hoje uma das maiores referências do Brasil no trabalho de prevenção, controle e combate a incêndios florestais e em áreas agrícolas. A confiança, o respeito e o prestígio acumulados nos últimos 15 anos são resultados de uma equipe altamente preparada, equipada, capacitada e experiente.


A atuação da Brigada é estruturada em cima de uma liderança forte, de uma visão estratégica e da interação entre as tecnologias digital e social. “Temos diferentes níveis de informação, que se sobrepõem, dialogam e corrigem eventuais falhas”, explica a diretora geral da Aliança da Terra, Caroline Nóbrega.


Ela está falando mais especificamente do Sistema de Inteligência Territorial e Detecção (SITD), elaborado em três níveis: Sensoriamento remoto; Monitoramento Terrestre; e Redes de apoio. Trata-se de uma ferramenta inovadora que não deixa a Brigada refém de apenas um método de detecção para eventuais riscos de incêndios.


Quando se fala em sistemas de inteligência e informação, é natural pensarmos na tecnologia digital, em satélites, sistemas remotos de dados. É claro que essas ferramentas são fundamentais e cruciais na rotina diária dos brigadistas.  


Mas o que tem feito grande diferença na atuação da Brigada é a tecnologia social, ou seja, as comunidades locais e do entorno, produtores rurais, quem trabalha e vive nas áreas em que o fogo acontece.


“Onde a Brigada Aliança atua a gente tem conseguido engajar essas pessoas para elas fazerem parte da solução. Tanto é que a maior parte dos acionamentos da Brigada vem da própria comunidade. A rede de apoio hoje é a nossa principal fonte de acionamento”, conta Caroline.


Resultados recentes apresentados pela Aliança da Terra comprovam essa tendência. Em 2023, a rede de apoio, mantida por meio de mensagens em grupos de WhatsApp e ligações, representou quase metade (48,9%) dos acionamentos das ocorrências de incêndios nos Parques Estaduais de Goiás e o entorno. 


Não por acaso, engajar a comunidades locais e do entorno é uma das premissas estabelecidas pelo Plano de Manejo Integrado do Fogo (PMIF), que considera não apenas os aspectos ambientais, mas também sociais, culturais e econômicos.


Vale lembrar que muitas vezes os moradores locais são apontados como responsáveis pela origem do fogo que causa incêndios e desastres que afetam a população e o meio ambiente.

No entanto, é importante entender que nem sempre essa origem é criminosa. Existem fatores culturais, sociais e falta de conhecimento também que podem levar uma atitude humana a provocar um incêndio.


“É lógico que a gente vai ter situação de desmatamento, de crimes ambientais. Mas a gente não pode assumir que o crime ambiental é sempre a regra e a origem de cada fogo”, destaca Caroline.


“Muitas vezes esse fogo vai ter uma origem na rede elétrica, no superaquecimento de um maquinário agrícola, em um lixo que a pessoa está tentando queimar porque ela não tem um sistema de coleta adequado”, exemplifica.


Oficinas comunitárias



Por isso, apesar de bastante desafiador, o engajamento das pessoas no manejo integrado do fogo é essencial. Nesse sentido, sempre que possível, são realizadas oficinas comunitárias com diversos grupos sociais que estão, direta ou indiretamente, relacionados ao uso do fogo nas áreas em que a Brigada Aliança atua.


Entre janeiro e março, Minas Gerais e Goiás receberam as primeiras oficinas de 2024 que tiveram como foco apresentar conceitos fundamentais sobre o fogo, compreender os saberes tradicionais sobre o tema, além de promover discussões acerca dos objetivos e estratégias para o Plano de Manejo Integrado do Fogo nas Unidades de Conservação desses estados.


“Não são somente oficinas para apresentar um material, são oficinas para entender a comunidade local, ouvir essas pessoas e elaborar algo que funcione, que atenda as necessidades. Essa é a lógica”, disse Caroline.


Para quem participa das oficinas, o sentimento é de gratidão. “Isso pra nós é muito importante. Nós agradecemos demais. E assim, assim que vocês tiverem mais coisas pra passar pra nós, nós estamos dispostos a aprender”, disse Márcia Dias, da comunidade tradicional do Pau Preto, Parque Estadual Verde Grande (PEVG), em Minas Gerais.


“Foi muito bom! A gente espera que tenha mais, né? Pra nos ajudar no que for possível”, disse Nivaldo Cavalcante de Souza, da Fazenda São Bernardo, Parque Estadual da Terra Ronca (PETeR), em Goiás.


Esse também é um dos papéis da Brigada Aliança, contribuir com as comunidades locais, ajudá-las, reconhecer e entender suas dores. “As pessoas existem nos territórios. Precisamos superar essa visão de que as comunidades locais e produtores rurais serão sempre a fonte dos problemas ambientais e dos incêndios. Onde a Brigada Aliança atua, frequentemente, essas pessoas têm sido parte da solução”, conclui a diretora geral da ONG Aliança da Terra.

 

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