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Lições de Cerrado com Jurema

Narrado pela seriema símbolo do parque, livro "Pelas Trilas do PESCaN" leva o leitor para uma viagem educativa por uma joia da natureza brasileira


"A gente protege aquilo que a gente conhece, a gente cuida daquilo que a gente conhece”. A frase, dita de improviso pela gerente-geral da Aliança da Terra, Caroline Nóbrega, durante a abertura da Semana do Meio Ambiente em Goiás, resume a importância da educação no esforço de conservação da natureza. Foi esse espírito que norteou a produção do livro “Pelas Trilhas do PESCaN”, lançado oficialmente no evento, promovido pela Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad-GO), que celebrou a Semana Mundial do Meio Ambiente. Fruto de uma parceria entre Secretaria, Aliança da Terra, PESCaN e Universidade Federal de Goiás (UFG) e financiado com recursos de compensação ambiental, a obra apresenta, de forma lúdica e didática, a fauna e a flora peculiares do Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCaN), uma joia do Cerrado brasileiro.


Iniciado em 2021, o projeto nasceu do desejo dos gestores do parque de levar conhecimento sobre a unidade de conservação para a comunidade escolar. A previsão é que o livro seja distribuído em agosto para os alunos de escolas de Caldas Novas, Rio Quente e Marzagão, no entorno do PESCaN. A Aliança da Terra atua no parque na prevenção e combate a incêndios florestais, através de uma base da Brigada Aliança. Mas, provocada por Maurício Tambellini, chefe do do PESCaN, a entidade encarou a oportunidade de discutir outras questões do parque e organizar a produção da publicação.


“Apesar do PESCaN estar fisicamente presente, muitas pessoas desconhecem sua importância. Vimos que era necessário trabalhar com a comunidade no entorno e desenvolvemos a ideia de um material que pudesse ser levado e trabalhado nas escolas. Lecionar o conteúdo nas escolas é a forma mais efetiva de disseminar essa conscientização”, afirma Tambellini.



O projeto envolveu mais de um ano de trabalho, coordenado pelas pesquisadoras Flávia Pereira Lima, da UFG, especialista em divulgação científica, e a ecóloga Danira Padilha, gerente de projetos da Aliança da Terra, que auxiliou na definição dos pesquisadores, além da revisão e da produção de mapas. “Mais de 180 artigos científicos foram compilados com informações sobre o parque”, afirma Caroline. “No final, o livro contou com 14 autores, pesquisadores que fizeram seus estudos no PESCaN, e envolveu oito diferentes universidades.


Coube a Flávia a missão de dar a forma didática e simples às informações científicas recolhidas durante décadas de estudos realizados no parque. Para isso, utilizou de um recurso vencedor: criar um personagem que guia os leitores pelos 14 capítulos, que criam trilhas de conhecimento entre os diversos aspectos do parque. A personagem escolhida foi Jurema, nome dado a uma seriema, ave símbolo do parque. Retratada em belas ilustrações, ela apresenta, de forma leve, temas densos, mas sempre recheados de curiosidades. “No PESCaN, por exemplo, há uma espécie única de cupim, que não existe em nenhum outro lugar do mundo”, adianta Caroline. Mais de 300 espécies de plantas estão presentes ali.


Flavia comenta que o projeto envolveu duas grandes ações. A primeira delas foi a construção de um banco de dados com todas as pesquisas científicas levantadas no parque, trabalho assumido pelo professor Paulo De Marco Júnior, da UFG. A partir desse material e do plano de manejo do parque, Flávia selecionou os temas que achou mais interessantes.

Bióloga e professora, Flávia trabalha com educação científica desde 2010 e explica que o principal veículo de divulgação científica são os livros didáticos. “Dada a imensidão e a riqueza da biodiversidade do Brasil, os livros não dão conta de representar todas as particularidades. Cabe às universidades, órgãos públicos e instituições que se preocupam com o meio ambiente, produzir material de referência para as escolas com conhecimento específico.



Isso faz ainda mais sentido para essas cidades, que estão às margens de um parque de relevância nacional para conservação da biodiversidade e para o turismo. É importante para a região que a comunidade local entenda o que está sendo preservado”.

Flávia diz que, a princípio, o livro foi pensado para alunos de anos iniciais do ensino fundamental (primeiro a quinto ano), mas que também pode ser aplicado para seus anos finais (sexto a nono ano) e até ensino médio, já que também aborda discussões ecológicas de nível mais avançado. “Tudo depende da mediação. O livro é rico em imagens e ilustrações e podem ser feitas diversas leituras desse material. Um exemplo disso é uma curiosidade: nas ilustrações elaboradas por Mauro Rodrigues, o colar da nossa protagonista, Jurema, a seriema, tem o formato do PESCaN”.


O levantamento das escolas que receberão o material já foi feito. No início de agosto, será realizada uma semana de planejamento focada no treinamento dos professores que irão trabalhar com essa cartilha. Um dos objetivos é que os professores, multiplicadores da ideia de preservação ambiental na sala de aula, tragam os alunos ao parque para complementar o que foi visto na teoria com a prática. Tambellini explica que uma dificuldade da Unidade de Conservação é desenvolver essa conexão com o entorno, ao ponto da comunidade se apropriar do espaço e tomar a iniciativa de protegê-lo.


Flávia aponta que um livro tem o poder de projetar nos alunos a sensação de identificação, empolgação e pertencimento ao vislumbrarem sua cidade e o PESCaN mencionados nas páginas impressas. “A finalidade do projeto é justamente essa: formar cidadãos conscientes do valor daquilo que está ao seu redor”.



Texto: Amanda Raíssa

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