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O voluntário agora é líder

Wendeli Gomes juntou-se à Brigada Aliança para ajudar. Em menos de um ano já estava no comando de uma equipe de guerreiros do fogo



Entre setembro e novembro, a temporada de seca atinge seu período crítico na região do Xingu, no Norte do Mato Grosso. É quando os incêndios mais ameaçam as fazendas e as matas das regiões, trazendo prejuízos econômicos e ambientais. É também a época em que reforços de voluntários são bem vindos no combate às chamas. Foi em uma dessas temporadas que, há pouco menos de dois anos, Wendeli Balke Gomes encontrou-se com o destino.


Criado em Querência (MT), Gomes trabalhava com serviços gerais na cidade de Bom Jesus do Araguaia (MT), onde vivia há cerca de cinco anos. Até então, nunca havia pensado em se tornar brigadista, apesar de acompanhar o trabalho da Brigada Aliança de perto e conhecer os veteranos há muitos anos. Conhecia a história e a trajetória da organização, mas sem a intenção de atuar.


Até que enfrentou seu primeiro combate, em que atuou como voluntário. A ocorrência foi no município de Bom Jesus do Araguaia e havia apenas dois guerreiros a postos para o combate. Na necessidade de reforços, ele se prontificou para ajudar.


Dali em diante, seu caminho e o da Brigada Aliança se uniram de forma definitiva. Gomes se inscreveu no momento em que a organização buscava novos brigadistas, serviu no Xingu por três meses e pouco tempo depois estava em Caldas Novas, realizando o treinamento de liderança. “Como eu já conhecia a Brigada, sabia sua procedência. Conhecia os valores que eles pregavam de responsabilidade, respeito e integridade necessárias para os guerreiros. Isso já servia de motivação e exemplo de honestidade para mim no dia a dia”.



Gomes é atualmente é líder da base da Brigada Aliança em Araputanga (Mato Grosso), cerca de 338km da capital, Cuiabá – uma das cinco equipes que atuam na região do Pantanal. No ano passado, ele já havia liderado outra base, em Planalto da Serra, também no Mato Grosso, o que lhe serviu para entender a responsabilidade que lhe era imputada, sobretudo no que se refere à segurança de sua equipe e das pessoas ao redor. “Um bom líder deve saber tomar decisões. Não posso colocar um guerreiro meu onde eu não gostaria de estar. Para o incêndio não há receita: cada combate é diferente”.


A equipe de Planalto da Serra, apesar de contar com apenas três guerreiros, enfrentou diversos combates. Gomes comenta que outro ponto a ser enfrentado como líder foi demonstrar confiança em seu conhecimento e em sua experiência. Em um caso marcante, ao se depararem com o fogo, os fazendeiros envolvidos chegaram a dizer que não havia meios de apagar ou conter o incêndio. Partiu de Gomes a decisão de insistir.


“A minha brigada vai entrar. Eu não aceito o ‘não’ sem tentar. Tenho que tentar para descobrir se terei eficácia no serviço ou não. Aqui de fora, vendo o fogo queimar, eu não posso ficar”, disse ele.


Uma vez apagado o incêndio, o líder foi recompensado ao ver a mudança no semblante dos fazendeiros diante da Brigada. “Eles viram que entendemos de combate, que conseguimos driblar o fogo e temos capacidade no que trabalhamos. Assim aumenta a confiança deles no nosso trabalho”.



Em Araputanga, Gomes conta com uma estrutura maior, assim como o desafio. A temporada de seca já começou e a região, que tem nas fazendas de pecuária de corte sua principal atividade, costuma ter um índice alto de focos de calor. Felizmente, diz Gomes, “as áreas estão cada vez mais adequadas e prevenidas contra incêndios”.


Entre as ocorrências que marcaram sua trajetória, Gomes se lembra de um caso no período de serviço no Xingu. Na ocasião, a dificuldade na logística do deslocamento em uma área indígena foi um grande desafio. “O fogo estava tão forte que consultamos o cacique para saber qual região era a prioridade. Ele definiu a aldeia e o pequizal (área de plantação de pequi). Da aldeia, onde pernoitávamos, até o local do incêndio, a distância era de 8 a 9km, que percorremos a pé todos os dias durante 20 ou 22 dias, sem folga, para conseguirmos a eficácia do serviço”.


Além de líder, Gomes é marido e pai e comenta que nem sempre é fácil conciliar as questões da família ao trabalho, mas busca sempre manter o foco e a responsabilidade. Em uma ocasião, em Planalto da Serra, saiu para combate deixando em casa o filho enfermo, com problema de pulmão e início de pneumonia. No local do incêndio, a situação estava crítica e o combate se mostrou um desafio, especialmente porque a equipe só contava com três brigadistas. “Minha mente estava em casa, mas eu tinha que focar no meu serviço, motivar os meus colegas. Essa é uma dificuldade que todo o guerreiro enfrenta. Tem problemas que acontecem em casa, mas não podemos deixar que eles afetem nosso trabalho porque as pessoas dependem de nós”.


Gomes acrescenta que os dias em combate longe da família, dos filhos e da esposa, por si só, já são um desafio recorrente. “Felizmente, do trabalho para casa, eu só tenho trazido notícias boas até hoje: temos muita adrenalina e muita motivação na hora de combater o fogo. Nunca houve um incêndio que não conseguimos combater e terminar. Eu creio que, considerando toda a trajetória da Brigada Aliança, os guerreiros sempre cheguem em casa com boas notícias. Mesmo que a queimada seja triste, por mais que destrua uma parte da propriedade e da natureza, nós cercamos e conseguimos parar o fogo”.


Texto: Amanda Raíssa

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