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Controle profissional do fogo

Eficiência das AgroBrigadas da Aliança da Terra comprovam que o cenário de multiplicação de focos de calor, e consequentes incêndios, pelo Brasil poderia ser diferente com um trabalho estratégico e contínuo de prevenção e combate ao fogo




Quando começaram a surgir as notícias sobre os incêndios no Pantanal, neste ano, foi inevitável recordar das imagens marcantes de 2020, ano em que o fogo consumiu uma parte significativa da região – mais de 30% na porção nacional, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A flora e a fauna foram brutalmente afetadas. Agora, mais uma vez, a situação toma proporções alarmantes.


Novembro ainda não acabou e até o dia 16 o número de focos de calor já havia passado de 3.000, recorde histórico para o mês desde 2002. Naquele ano foram registrados 2.328 focos, conforme divulgado pela Agência Brasil. Na comparação com o mesmo período de 2022, o aumento passa de 1.400%, segundo dados do Programa Queimadas do INPE.


Tal cenário é caracterizado por tempo seco e temperaturas elevadas. Essa condição ficou ainda mais grave neste mês, em grande parte por influência do fenômeno El Niño. Adicionalmente, causas pontuais como a incidência de raios e a ação humana podem agravar a situação. Além de toda a perda causada pelo fogo, há a dificuldade de ter equipes capacitadas e bem equipadas para combater e controlar eficientemente a situação.


As brigadas dos órgãos públicos têm sido reforçadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), contando com aeronaves e veículos especiais para combater os incêndios. No entanto, é notável a limitação ao contratar brigadistas apenas no período crítico, sem considerar a importância das ações de prevenção no período apropriado.


As ações preventivas são tão imprescindíveis quanto o enfrentamento ao fogo. O trabalho permanente das brigadas de incêndio, durante o ano todo, inclusive preparando terreno para facilitar o acesso no combate, ajudaria a reduzir o desequilíbrio – a favor do fogo – em situações emergenciais. Os resultados alcançados pela atuação das AgroBrigadas da Aliança da Terra comprovam esse conceito.


Ação permanente


Grande parte das atividades de combate e controle do fogo pelos órgãos públicos (PrevFogo e ICMBio, por exemplo) acontece em Unidades de Conservação (UC) e Terras Indígenas. No entanto, é importante ressaltar que terras particulares, como as propriedades rurais, também devem ser cobertas por essa atuação. Essa abordagem deve ser contínua ao longo do ano, visando a implementar ações preventivas de forma consistente.


Em três municípios de Mato Grosso – Cáceres, Poconé e Pedra Preta –, a presença das AgroBrigadas promoveu uma mudança brutal em relação à incidência de focos de calor não apenas nas fazendas cadastradas, mas em todo município.


Inicialmente, por meio de uma parceria com uma agroindústria, a Aliança da Terra manteve suas AgroBrigadas nessas três regiões durante dois anos (2021 e 2022). Nesse período, a redução de incêndios foi enorme.


Para se ter ideia, em 2020, antes desse trabalho conjunto, foram registrados 2.755 focos de calor em Cáceres. No primeiro ano com a AgroBrigadas, houve redução de 55,5%, caindo para 1.226 focos. No segundo ano, foram apenas 133 focos. Somando os resultados dos dois anos, houve uma redução de mais de 95% nos incêndios.



Em Poconé, os dados são ainda mais amplos. Em 2020, foram 5.641 focos de calor. Com um ano da presença da AgroBrigada, esse número caiu para 771 e, no segundo ano, para 227. Nesse período todo, houve redução de quase 96% na incidência de focos de calor.


Todos esses dados são do satélite de referência do BDQueimadas, o Banco de Dados de Queimadas do INPE. O período anual vai de 1º de janeiro até 31 de dezembro. Exceto 2023, que vai do início do ano até o dia 15 de novembro.



Após esses dois anos, com o encerramento do contrato de financiamento das AgroBrigadas, observamos, como esperado, os impactos sendo notados agora em 2023. Em Cáceres, os focos de incêndio subiram de 133 para 277 e, em Poconé, passaram de 227 para 1.751. Em Pedra Preta, a situação foi diferente…


Persistência na prevenção


Os 341 focos de calor de 2020 em Pedra Preta caíram para apenas 14 já no primeiro ano de atuação da AgroBrigada da Aliança da Terra. No segundo ano, o número voltou a subir, mas continuou muito distante da realidade que se via anteriormente. Em 2022, foram registrados 26 focos.


Impressionados com esses resultados, após o encerramento do projeto inicial, produtores rurais de Pedra Preta e região uniram-se ao Sindicato Rural do município e criaram um consórcio para financiar a continuidade da AgroBrigada em 2023.


Os resultados foram impressionantes. Enquanto vários municípios de Mato Grosso sofreram com grandes incêndios, o de Pedra Preta registrou apenas oito focos de calor, as menores taxas já registradas nos últimos 15 anos.


Até por terem passado por períodos muito complicados com fogo, de grandes perdas, como em 2020, esses produtores compreenderam a relevância da AgroBrigada. E não apenas pela atuação no combate e no controle do fogo, mas também por toda a ação de prevenção, conscientização e treinamento das equipes nas fazendas e das comunidades ao redor.


Para alguns desses produtores, trata-se inclusive de uma mudança cultural, com o engajamento para estabelecer uma forma mais coletiva de se trabalhar. Tal conceito pode ser ampliado e fortalecido, com maior participação de outros elos da cadeia produtiva, como empresas, entidades e órgãos governamentais.


Se depender da Aliança da Terra, esse conceito só vai crescer, pois um dos pilares que sustentam sua atividade é exatamente a coletividade. Ninguém age sozinho na prevenção e no combate aos incêndios.


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