top of page
Foto do escritorDaiany Andrade

20 anos de uma aliança em prol da Terra

John Carter, idealizador e co-fundador da Aliança da Terra, conta como tudo começou, os principais objetivos, desafios e conquistas

Ao vir dos EUA para o Brasil, viver com sua esposa Ana Francisca Garcia Cid Carter na fronteira agrícola do Alto Xingu, John Carter sentiu na pele toda a dificuldade de preservar a mata nativa, que é exigido por lei, numa região tão violenta e sem lei. As cobranças eram vastas, o apoio quase nulo.


Havia leis a cumprir e muitas cobranças no cenário nacional e, principalmente, internacional. O que não havia? Suporte para ajudar o produtor a atender às demandas e conciliá-las com a produção agrícola.


Para se ter uma ideia, a região era conhecida como o “Vale dos Esquecidos” e enfrentava muitos conflitos entre fazendeiros, povos indígenas e grileiros. “Nessa região de caos, surgiu a ideia de se criar uma solução via setor produtivo”, contou Carter, em entrevista ao blog.


Piloto, sobrevoava a floresta Amazônica e percebia, a olhos vistos, o avanço da fronteira agrícola por meio do fogo e do desmatamento. Após bater em muitas portas buscando apoio, sem receber nenhum retorno, John Carter decidiu criar uma organização capaz de garantir a sobrevivência de quem queria produzir da forma certa.


Assim, a Aliança da Terra nasceu em 2004, por amor à terra e às pessoas, fundada com a missão de unir proprietários de terras conscientes e comprometidos com a produção ecologicamente e socialmente responsável de alimentos seguros e saudáveis.


Criando as regras do jogo

A Aliança da Terra foi fundada para ser uma solução via setor produtivo

Foi neste contexto que ele criou a Aliança Terra há exatos 20 anos. Um dos objetivos principais era provar que os produtores não eram os principais responsáveis pela devastação da floresta.


Mas não só isso. “Nós não queríamos falar que estávamos fazendo a coisa certa, mas comprovar com metodologia, critérios e indicadores. Foi isso e deu certo”, explicou.


Tudo começou a partir da implementação de um sistema de diagnóstico socioambiental nas fazendas, com a assistência técnica a agricultores e pecuaristas nas adequações necessárias e o uso de ferramentas de dados e verificação para atestar as boas práticas adotadas no campo.


Um dos grandes desafios no começo foi conquistar a confiança dos produtores, que já estavam cansados das pressões de ONGs, instituições financeiras e órgãos públicos.


“O produtor estava com o pé atrás, principalmente com a palavra ONG. Mas foi fundamental o fato de que eu e os outros apoiadores éramos produtores, morávamos na região. Isso criou a ponte de confiança, que foi fundamental na construção da Aliança da Terra”, lembrou Carter.


Outro objetivo da Aliança da Terra era dar destaque e valorização aos produtores que estavam comprometidos em alinhar agronegócio e preservação ambiental.


Havia também grande expectativa em torno das promessas de bancos e de grandes empresas de alimentos de premiar ou oferecer vantagens a quem comprovasse a adoção de práticas sustentáveis de produção.


“A ideia era criar um padrão, no meio da fronteira agrícola, para ser exemplo, com a esperança de que essas instituições, bancos, e multinacionais iam dar privilégios para a gente, como acesso a mercados e, talvez, prêmios que eles sempre prometiam, sempre”.


Algo que na opinião de Carter nunca foi cumprido. Embora hoje haja alguns avanços, como o Pagamento por Serviços Ambientais, previsto em lei, e o próprio Plano Safra que estipula desconto nos juros para produtores que adotam boas práticas desde o ciclo 2023/2024, o Brasil ainda precisa evoluir muito nesta questão.


Piloto, Carter sobrevoava a floresta Amazônica e percebia o avanço da fronteira agrícola

A Brigada Aliança e a Produzindo Certo


Um marco na história da Aliança da Terra foi a criação da Brigada Aliança em 2009, com apoio do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso e do Serviço Florestal dos Estados Unidos, para ajudar os produtores em outra questão essencial: o combate aos incêndios nas áreas florestais e nas propriedades rurais.


“Fundamos este projeto, fizemos o melhor treinamento que existe no mundo. O melhor treinamento técnico trouxemos para cá e, depois, o melhor treinamento de liderança”.


Hoje a Brigada coleciona números impressionantes. São cerca de 2 mil pessoas treinadas, mais de mil incêndios combatidos, e o monitoramento de 13 Unidades de Conservação e mais de 160 propriedades privadas. “Onde a Brigada atua ela resolve, resolve”, enfatizou Carter.


Outro resultado importante na celebração desses 20 anos foi a fundação da Produzindo Certo, uma agtech inspirada e idealizada a partir dos projetos desenvolvidos pela Aliança da Terra.


Aline e Charton Locks, que trabalharam na Aliança desde a fundação, criaram a empresa em 2019 com objetivo de ampliar a capacitação técnica socioambiental aos produtores, aumentar os investimentos em tecnologia e ganhar escala.


“A gente sempre tinha um pensamento, desde o início, de que essa questão de sustentabilidade deveria entrar nas relações comerciais”, contou Aline Locks, CEO da Produzindo Certo.


“A gente precisava investir em tecnologia para ganhar escala, atender mais fazendas, com mais eficiência. E tudo isso com recursos filantrópicos, baseado nas teses de doações das empresas, era mais difícil”, explicou ela.


Em poucos anos, a Produzindo Certo alcançou importantes resultados. Passou de 1.100 propriedades monitoradas para 7.500, de seis dias para o processamento dos dados socioambientais das fazendas para pouco mais de uma hora.


A empresa passou por diversas transformações, ganhou escala e se consolidou como uma agtech especializada na estruturação de cadeias agropecuárias sustentáveis.


Hoje, a Aliança da Terra e a Produzindo Certo seguem em parceria em diversos projetos, como o “Valorizar para transformar”, realizado no Pará, com aporte financeiro da Bezos Earth Fund, fundo de investimentos filantrópicos.


Para John Carter, as boas práticas adotadas pelas fazendas assistidas pela Aliança da Terra e, posteriormente, pela Produzindo Certo, é o principal legado dessas duas décadas.


“Se você pegar o GPS e botar o mapa da Produzido Certo no Google Earth, sobe no avião, sai de Goiânia e vai para a Alta Floresta, você vai ver que embaixo destaca as propriedades da Aliança, destaca. APP existe, a água limpa, as lavouras 100% plantio direto, erosão controlada, as matas não estão queimando, as pessoas das fazendas têm plano de manejo de fogo”.

30 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page